domingo, 14 de setembro de 2008

Procurando Pesetas

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Vagueamos por cerca de uma hora em busca de algum banco ou casa de câmbio aberta. Nada!

Na praça Del Castillo deparamo-nos com uma figura calva concomitantemente estranha e familiar. Vestindo uma camiseta do Grêmio portoalegrense e concentrado nas páginas de um guia do Caminho de Santiago ele não nos viu aproximar.

- Só pode ser brasileiro – insisti com Marlos – Vou lá perguntar.

Em sua rápida apresentação César disse que chegara a Pamplona no dia anterior e que iria partir para Saint jean Pied de Port naquele dia, inciando, então, sua peregrinação. Mais um se juntava a trupe brasileira em terras espanholas.

A fome começara a bater e viera junto com o cansaço de mais uma noite sem dormir, o incômodo do peso da mala, que insistia em não se ajustar ao meu corpo, a incompreensão do espanhol falado na Navarra (muito embora eu, de certa forma dominasse o castelhano) e as frustradas tentativas de troca de moeda.

Se para mim o peso desses contratempos já era um fardo grande demais para carregar, para Rogério, que não entendia uma palavra da língua espanhola, carregava três quilos a mais nas costas e sentia sua Timberland apertar-lhe os dedos, o desespero era insuportável. Por várias vezes ele parou e sentou na calçada desolado, pedindo-nos que o esperasse.

César, o gaúcho, assentiu em trocar alguns dólares por pesetas, uma vez que, chegando um dia antes, conseguira pegar os bancos abertos:

- Só que não quero os dólares. Depois vocês me devolvem em pesetas mesmo.

Estranho, pensei comigo. Como é que alguém, que você conheceu poucos minutos atrás, lhe empresta o equivalente a cinqüenta dólares sem nenhuma garantia? Estranho!

Com dinheiro no bolso uma pequena parcela de ânimo que houvéramos perdido voltou. Sentamos num bar e pedimos uma refeição enquanto discutíamos como iríamos para os Pirineus. Estava decidido. Mais uma vez utilizaríamos um táxi e racharíamos entre os seis.

Após o almoço e seguindo a boa idéia de Chico, fomos a uma agência dos correios e despachamos para Santiago, via Posta Restante, alguns excessos. Rogério trocou a bota por um lindo par de tênis comprados de um camelô em São Paulo. Sentiu-se bem melhor. Com menos peso para carregar voltou a sorrir:

- Agora sim podemos começar o Caminho!

Mal sabia ele do que ainda estava por vir.

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