quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Decolando

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Minhas pernas compridas não conseguiam se ajeitar no espaço ínfimo entre as poltronas da classe econômica. Tentei mantê-las esticadas no corredor, mas o vai e vem dos carrinhos de bebidas e a cara feia das aeromoças (nossa, acho que na Ibéria eles contratam as aeromoças pela feiúra – vão ser feias lá longe!) interrompiam constantemente meu espreguiçar.

Um dos viajantes que me interrogara na fila do embarque veio até meu lado e continuou a querer saber mais sobre o Caminho. O cara era daqueles tipos que faz amizade fácil, quase um político, com gestos expansivos e sorriso largo. Fez-me levantar de minha cadeira e acompanha-lo até outra fila para me apresentar Chico e Rosali, dois senhores que também iriam peregrinar pelos campos espanhóis, sendo que ela iria pela segunda vez.

A conversa começou animada e aos poucos toda a seção do avião já nos conhecia. Eu não me cabia em tanta excitação. Passei a maior parte da viagem trocando de lugar, indo para um lado e para o outro, falando com todos os que, curiosamente que saber algo sob nossa empreitada.

- Estamos em lua-de-mel e vamos fazer um trecho do Caminho de carro.
- Vou fazer somente os últimos cem quilômetros.
- Estamos numa excursão; faremos o Caminho de ônibus.

Chico e Rosali nunca tinham ouvido falar sobre o Caminho do Norte. Sem desrespeitar minha decisão tentaram delicadamente dissuadir-me da idéia e acompanha-los pelo Caminho Francês.

- Senhores passageiros, devido a uma tempestade à nossa frente seremos obrigados a alterar nosso plano de vôo. Solicitamos a todos que permaneçam sentados em suas poltronas e afivelem os cintos de segurança.

A mensagem no alto-falante pôs fim a minha aero-peregrinação. Voltei ao meu lugar onde encontrei Rogério dormindo. Tentei fazer o mesmo. Algumas poucas horas depois acordei com o procedimento de descida. Estávamos em Madri.
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