terça-feira, 2 de setembro de 2008

A Passagem

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Decidido e com o dinheiro da rescisão em mãos comecei a me preparar para a empreitada.

Após cadastrar-me no melhor site de informações em português sobre o Caminho - http://www.caminhodesantiago.com.br/ - do ex-peregrino (mas sempre caminhando) José Roberto, engenheiro carioca que decidiu divulgar o Caminho após sua experiência em 1996, comecei a me inteirar melhor sobre como e onde por onde começar. Uma lista de discussão (às vezes acalorada) entre futuros e ex-peregrinos me deu informações valiosíssimas sobre quase tudo. Foi lá que conheci Maria Emília, outra carioca, mas morando em São Paulo, que era a responsável pela Associação dos Amigos do Caminho de Santiago.

Maria Emília não hesitou em receber-nos em seu apartamento, dividindo as atenções entre seu filho e a mim e ao Rogério para nos dar a credencial (1), uma vieira (2) e, através de suas histórias maravilhosas povoar-nos de sonhos e dicas. Que tarde que passamos com essa guanabarense! O espírito peregrino continuava vivo nela e pudemos senti-lo com todo o seu fervor! Uma idéia colhida naquele bate-papo fixou-se em minha mente: fazer o caminho do norte – uma das rotas (3) que levam a Santiago, mas que não é muito divulgada e da qual havia pouca ou nenhuma informação. “Que desafio” - pensei. “É este o Caminho que quero fazer!”

Uma agência no Rio de Janeiro oferecia a passagem São Paulo / Madrid / Pamplona (cidade ao norte da Espanha) e a volta Madrid / São Paulo, por míseros US$ 525,00 fruto de um convênio da Ibéria com o Governo Espanhol para difundir o Caminho de Santiago. Bastava apresentar a credencial. E ela nós já tínhamos!

Talvez o mais duro desse momento foi convencer o cético Rogério a depositar, junto comigo, o valor da passagem adiantado para a agência e por dias angustiar-me ao receber os telefonemas dele me perguntando: “Chegou?” – e não ter uma resposta positiva.

- Putz Betão, acho que entramos numa fria!

As passagens chegaram depois de uma semana.

Notas:
(1) foto – tipo de passaporte de peregrinos que lhe permite pernoitar em albergues. A cada um deles se carimba a credencial para, posteriormente, em Santiago, se ganhar a Compostelana, um diploma que “prova” que você fez o Caminho.

(2) Vieira é uma concha típica do litoral da Galícia e é utilizada como símbolo de identificação dos peregrinos.

(3) Os principais caminhos são:
Caminho Francês – o mais conhecido e utilizado – parte de Saint Jean Pied de Port, no sul da França, junto aos Pirineus
Caminho Aragonês – partindo de Somport – no alto dos Pirineus, na divisa entre a França e a Espanha.
Caminho Português – várias pequenas rotas que partem do sul de Portugal, Lisboa ou O Porto.
Caminho Inglês – de Ferrol (Espanha) à Santiago
Caminho Primitivo – de Porto do Acebo a Santiago
Caminho do Norte – de Saint Jean de Luz (França) ou Irun (Espanha) a Santiago
Via Turonense – que parte de Tours na França
Via Lemovicense – saindo de Vezélay (França)
Via de la Plata – de Sevilha à Santiago de Compostela
Via Tolosana – partindo de Arles (França)
Via Podiense – de Lê Puy em Velay (centro-sul francês) a Santiago.

Na verdade não existe um único Caminho mas sim rotas mais utilizadas. É muito comum na Europa as pessoas deixarem suas casas, seja lá onde elas forem, e partirem rumo a Santiago.
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