domingo, 31 de agosto de 2008

Os Primeiros Obstáculos

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Eles surgiram do nada após a decisão pareciam ser tentações a desistir.

Minha primeira providência foi criar coragem e pedir demissão, tarefa nem um pouco fácil quando você trabalha numa empresa de amigos seus e tem um cargo de confiança. Adiei a idéia e o ímpeto por diversas vezes. Já não conseguia nem mais dormir direito com a angústia de ter que deixá-los sem ao menos uma explicação plausível. O que iria dizer: "Olha, eu fiquei maluco. Estou a fim de viajar pelo mundo, perambulando por aí como se tivesse 18 anos!" - não. "Preciso de um tempinho na minha vida por isso, me dêem uns 90 dias de férias que, quando voltar, estarei mais focado!" - afff, que horror!

Não sei ao certo por onde comecei, mas preferi falar primeiramente com o pai de meus amigos, Sr. Boris, esperando uma reação desconcertada, algo como uma reprimenda grave. Não foi o que houve; Sr. Boris olhou longamente para mim e disse:

- Quando eu era jovem também sonhei em fazer isso. Contudo, minha situação na época não me permitia. Hoje posso viajar pelo mundo inteiro, mas definitivamente não é a mesma coisa. Vai, vai viver seu sonho. Apenas peço que você se explique com os meninos (meus amigos), pois eles não vão entender da mesma forma. Talvez achem que erraram em algum ponto ou que você não está sendo sincero pelo motivo que quer sair.

Aquelas palavras me encheram de confiança. Uma barreira vencida. A segunda não foi tão fácil e como previsto muito custou para Mario e Leonardo entenderem o que me movia. Em suas cabeças não havia um motivo, apenas um sonho. Não havia lógica, apenas um impulso. Eu sabia que não era somente isso!
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sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Um Poeta

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Os corredores do colégio estavam finalmente ficarma vazios.

Rogério tamborilou os dedos sobre o corrimão desgastado que acompanhava a escada e o levava para fora. Alcançando a rua parou, voltou-se para o prédio que acabara de deixar. Rememorou o caso que tivera com a então jovem apresentadora de TV, ainda aluna. Não dava, ela tinha o buço avantajado demais. Parou no carrinho de doces no meio da rua e deliciou-se com a barra de mocotó que comprou. Ser bedéu não fazia mais parte de sua vida!

Sempre, de alguma maneira, as atividades que tentou em seguida esbarravam numa incongruência com seu perfil: foi ser modelo, desfilando de cueca seu corpo malhado, em supermercados e magazines para delírio de jovens senhoras e outras nem tanto assim. Não deu certo - era tímido demais. Tentou a carreira (se é que é possível chamar assim) de "stripper" numa conhecida casa de shows (acho que é a única) - o Clube das Mulheres - mas não levou o intento muito adiante. Ápós algumas apresentações travestido de bombeiro, de cavaleiro da noite e outras fantasias que floreavam os sonhos das mulheres que o assistiam, tentou o inusitado: posou de poeta cantor - ele, seu inseparável violão e um banquinho. Quase foi escuraçado do palco:

- Tira logo a roupa! - gritavam frenéticas as espectadoras. Seu romantismo e inocência foram por água abaixo.

Resolveu seguir uma carreira, digamos, normal. Matriculou-se no curso de engenharia o que não durou nem dois anos. Exato demais para sua alma artística.

Foi para o teatro. Era incrível ver aquele menino retraído sobrar em suas encenações, por momentos até seguras. Não parecia a mesma pessoa! Com um vozeirão firme e aveludado encantava as pessoas, muito embora por vezes se atrapalhasse nas posições.

Conseguiu acompanhar a turnê de Milton Nascimento, Tambores de Minas, como "backing vocal" e talvez esta tivesse sido a melhor oportunidade de sua vida até então. Era o que mais gostava de fazer: a música fazia parte de sua essência. A proximidade de perfis o levou para muito perto de Milton: seres parelhos.

As mulheres continuavam a assediá-lo, como a mãe de outra famosa apresentadora de TV. Numa das cidades em que a trupe estava acabou conhecendo-a. Mais tarde, a fogosa senhora convenceu-o a ir até seu quarto de hotel e maliciosamente convidou-o a chupar com ela uma manga. Saiu do quarto mais que rapidinho. Velha demais! Findo o contrato não se esmerou em manter a amizade conquistada por "não querer incomodar o astro". Faltou-lhe senso de oportunidade.

A sorte ainda iria lhe bater na porta por mais vezes, principalmente no teatro. Grandes produções, grandes diretores... mas faltava-lhe o querer. Seu destino tinha que ser outro. Tinha que ser a música!

Quando não estava encenando ocupava-se com seu inseparável violão. Horas e horas dedilhando, repassando músicas conhecidas, compondo odes de amor a antigas namoradas ou à daquele momento, Mariana que conhecera num espetáculo do então recém aberto parque de diversões o Hopi Hari. Ele o príncipe, ela uma real princesa!

Sua angústia pairava no que fazer; os anos iam se passando e a indecisão só fazia aumentar.

Meu comentário e convite veio momentos após finda a temporada da peça no parque. E para minha surpresa sua resposta foi imediata:

- É disso que eu preciso! Vou contigo!

Meu irmão de coração iria embarcar comigo. Esta decisão foi definitiva para que as coisas realmente acontecessem.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Começando pelo Começo

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Então começo por onde tudo começou!!!

O ano era 1993 e a reportagem perdida no meio da revista pareceu iluminar-se frente aos meus olhos sonhadores e ávidos por aventuras, misticismo, pelo desconhecido e o desafio que ela encerrava. Soube naquele exato momento que, mais uma vez, embarcaria nas asas de desejos impulsivos como tantos outros que eu já experimentara. Contudo, para minha perplexidade, anos se passaram até que aquela empolgação inicial voltasse a se manifestar.

Escondida no recôncavo mais longínquo de minha mente ora vinha à tona ora desaparecia. Ganhava vida no silêncio e na solidão para esvanecer-se na realidade. Foi por causa dessa alternância que me surpreendi ao deixar escapar o tema numa roda de amigos no final de 98, empolgando-me ao decretar que em breve poria em prática minha decisão. Diante de olhares atônitos senti-me constrangido por verbalizar tal idéia que há muito se calava. As palavras nem passaram pela censura de minha consciência. Foram poucos segundos até que uma gargalhada estrondosa tomasse conta do grupo. O escárnio tinha seus fundamentos: era bastante implausível um preguiçoso e fumante inveterado como eu, colocar em prática tamanha empreitada.

Nas poucas vezes em que pensei no assunto no ano seguinte cobri-me de motivos para adiá-lo: falta de dinheiro, trabalho, problemas em família e até mesmo um “poxa, agora comecei a namorar; não vai dar” (o que venhamos e convenhamos nunca foi empecilho para nada em minha vida). Sinceramente, nem eu mesmo acreditava mais na seqüência daquele projeto!

Somente no início de 2000, quando assolado por uma profunda depressão - daquelas em que você questiona tudo em sua vida - é que finalmente a idéia explodiu como necessidade. Estressado por uma rotina de trabalho estafante, uma monotonia nos âmbitos pessoal e sentimental, pela própria falta de perspectivas e de um sentido maior para viver deixe-me levar pela atração que aquela reportagem da revista me causara.

Viajar para o exterior, coisa que eu nunca fizera (bem, na verdade eu visitara por duas vezes a Argentina, ainda que a trabalho, e passara uma noite na famosíssima Juan Pedro Caballero no Paraguai quando me perdi numa viagem ao centro-oeste brasileiro), viver um “pare o mundo que eu quero descer” por um tempo, talvez até começar uma nova vida. Sim, era isso o que eu queria!

Pela terceira vez uma forte onda de empolgação tomou conta de mim. Era o momento. Antes que minha consciência criasse algum problema, tratei de definir uma data de partida: 11 de setembro (não me perguntem o porquê desta data que agora relendo meus apontamentos se mostra bastante coincidente e interessante – um ano antes do mundo mudar!)

Perguntas pululavam em minha cabeça: de onde tiraria dinheiro? Como poderia ficar mais de um mês afastado do trabalho se nem férias eu tirara nos últimos cinco anos? O que faria de minha vida depois da experiência? Perguntas sem repostas... ou não!
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A Minha Experiência

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Fui ao Caminho procurando respostas;
Encontrei perguntas nunca antes formuladas.

Fui ao Caminho procurando mágica;
Encontrei fantásticas cenas reais.

Fui ao Caminho procurando solidão;
Encontrei verdadeiros amigos.

Fui ao Caminho procurando inspiração;
Encontrei a persistência para seguir buscando-a.

Fui ao Caminho procurando sabedoria;
Encontrei humildade.

Fui ao Caminho procurando um caminho;
Encontrei infinitos.

Fui ao Caminho procurando paz;
Encontrei a inquietude de meu ser.

Fui ao Caminho procurando um fim;
Encontrei o começo.

Fui ao Caminho procurando meu “eu”;
Encontrei outro alguém.

Fui ao Caminho procurando Deus;
E O encontrei!!!

# 29/11/2000
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Prefácio

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Um neurocirurgião chileno,
Um arqueologista israelense,
Um escritor japonês,
Um cantor inglês,
Uma bióloga dinamarquesa,
Uma psicóloga alemã,
Uma jornalista francesa,
Uma enfermeira australiana,
Uma juíza brasileira.

Sérios executivos, alegres desempregados;
Desconhecidos estudantes, ilustres aposentados;
Místicos, religiosos, pagãos;
Atletas, deficientes, sedentários.

Jovens e idosos,
Homens e mulheres.

Negros, brancos, amarelos...

Que estranha força os uniria?
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Introdução

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As palavras não são minhas;
Elas estão escritas no Caminho de cada um.
Contudo, só são repetidas
Aos que realmente desejam ouvi-las!
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